Acidente - Parte 2
Continuação do post Acidente, de 17 de Fevereiro de 2008 (eu não consegui colocar o link, então tenha a gentileza de procurar nas postagens mais antigas).
A vida sempre é uma droga. Ou ela é uma droga porque é uma bosta; ou é uma droga porque de tanto vivê-la, vicia-se nela e a vive por hábito; ou porque ela proporciona prazer, euforia e não se quer largá-la, pois dela torna-se dependente.Quando, por volta dos meus oito anos, percebi que vivia por hábito, minha vida se tornou uma merda sem sentido. Mas nos meus pŕe-maturos últimos anos a vida me foi um narcótico que me proporcionava extremo prazer.
Inicialmente morrer me frustrou profundamente. Logo agora! Agora, que a vida me parecia motivo suficiente para viver e da qual eu esperava tanto! Se tivesse sido quando eu ainda era uma criancinha, eu nem teria ligado para isso, como não ligava para nada. Se fosse na minha pré-adolescência, tenho certeza que seria um alívio. Mas não, morri quando tinha vontade de viver, quando havia para ser disperdiçada uma vontade de viver... e não só ela, mas também uma morte.
Pois sim, frustrou-me disperdiçar não só minha vida e minha vontade, como também disperdiçar minha morte. Minha vontade de viver se justificava pelo fato de que, até onde se pode ter certeza, só temos uma vida, então é melhor aproveitar a oportunidade da melhor forma possível. O mesmo eu pensava sobre a morte: se é inevitável e é unica, que seja a melhor possível. Pouca gente entende como é possível aproveitar a morte. A maioria só espera a menos pior das mortes, a mais indolor, e assim disperdiça-se tantas mortes, o que, perto de tudo o que é disperdiçado antes dela, não parece uma grande tragédia... talvez apenas o gran finale de uma.
A morte pode ser aproveitada de muitas maneiras: paga-se com a vida, e com a morte, pelos atos heróicos em prol de algo maior que a própria vida e também pelas experiências intensas em prol de nada mais que a própria vida; pode-se fazer com que a morte seja a vernisage de uma vida bem vivida, o último brilho de uma vida luminosa, o mais forte brilho, pois só então é possível que a vida reluza toda de uma vez só; ou pelo contrário, a última chance de chamar atenção a uma vida disperdiçada, um lembrete para o fato de que é preciso aproveitá-la ou para o seu oposto, de que não é possível fazê-lo. E da maneira mais babaca me foram disperdiçadas as raras vida e morte e a mais rara ainda vontade de viver.
Mas agora, imerso em nada, impressionado apenas por minhas memórias e pensamentos, agora que já lembrei tudo o que tinha para lembrar e pensei tudo o que havia para pensar, agora que já lamentei não mais poder sentir tudo aquilo que me seduzia e minha mente começa a se acalmar e, uma vez que nada mais a ela chega, a esmaecer, sinto um confortável não sentir, não pensar, não esperar, não se preocupar e me encontro tranqüilo por estar livre daquele raro infortúnio de viver, sentir, e de seu conseqüente e pesado fardo de querer ser feliz.
A vida sempre é uma droga. Ou ela é uma droga porque é uma bosta; ou é uma droga porque de tanto vivê-la, vicia-se nela e a vive por hábito; ou porque ela proporciona prazer, euforia e não se quer largá-la, pois dela torna-se dependente.Quando, por volta dos meus oito anos, percebi que vivia por hábito, minha vida se tornou uma merda sem sentido. Mas nos meus pŕe-maturos últimos anos a vida me foi um narcótico que me proporcionava extremo prazer.
Inicialmente morrer me frustrou profundamente. Logo agora! Agora, que a vida me parecia motivo suficiente para viver e da qual eu esperava tanto! Se tivesse sido quando eu ainda era uma criancinha, eu nem teria ligado para isso, como não ligava para nada. Se fosse na minha pré-adolescência, tenho certeza que seria um alívio. Mas não, morri quando tinha vontade de viver, quando havia para ser disperdiçada uma vontade de viver... e não só ela, mas também uma morte.
Pois sim, frustrou-me disperdiçar não só minha vida e minha vontade, como também disperdiçar minha morte. Minha vontade de viver se justificava pelo fato de que, até onde se pode ter certeza, só temos uma vida, então é melhor aproveitar a oportunidade da melhor forma possível. O mesmo eu pensava sobre a morte: se é inevitável e é unica, que seja a melhor possível. Pouca gente entende como é possível aproveitar a morte. A maioria só espera a menos pior das mortes, a mais indolor, e assim disperdiça-se tantas mortes, o que, perto de tudo o que é disperdiçado antes dela, não parece uma grande tragédia... talvez apenas o gran finale de uma.
A morte pode ser aproveitada de muitas maneiras: paga-se com a vida, e com a morte, pelos atos heróicos em prol de algo maior que a própria vida e também pelas experiências intensas em prol de nada mais que a própria vida; pode-se fazer com que a morte seja a vernisage de uma vida bem vivida, o último brilho de uma vida luminosa, o mais forte brilho, pois só então é possível que a vida reluza toda de uma vez só; ou pelo contrário, a última chance de chamar atenção a uma vida disperdiçada, um lembrete para o fato de que é preciso aproveitá-la ou para o seu oposto, de que não é possível fazê-lo. E da maneira mais babaca me foram disperdiçadas as raras vida e morte e a mais rara ainda vontade de viver.
Mas agora, imerso em nada, impressionado apenas por minhas memórias e pensamentos, agora que já lembrei tudo o que tinha para lembrar e pensei tudo o que havia para pensar, agora que já lamentei não mais poder sentir tudo aquilo que me seduzia e minha mente começa a se acalmar e, uma vez que nada mais a ela chega, a esmaecer, sinto um confortável não sentir, não pensar, não esperar, não se preocupar e me encontro tranqüilo por estar livre daquele raro infortúnio de viver, sentir, e de seu conseqüente e pesado fardo de querer ser feliz.