Tuesday, July 28, 2009

Da Sacada

Da sacada, olhava-a dentro do quarto com curiosidade. Sua curiosidade era uma farsa. Este seu ar só estava em seu rosto para que ela soubesse que suas intenções iam além das carnais, que pretendia passar algum tempo com ela, que pretendia realmente conhecê-la.
Mas a curiosidade exposta em seu semblante de olhos receptivos e de resto de quem não está ali era uma farsa. A curiosidade abandonava sua mente para dar lugar ao esforço de expressá-la, e só voltava quando tal esforço cessava.
Verdadeira ou falsa, sincera ou inventada, espontânea ou forçada, de nada adiantava sua expressão. Ela jamais tomaria conhecimento, pois não olhava para fora.
Tantas janelas da sua via e só ele sabia usá-las. Por uma delas viu uma televisão na qual alguém, oculto por uma cortina, assistia Big Brother. 'Para que Big Brother...' pensou, 'se você tem janelas?'
Seria medo de ser observado de volta?
Não podia acenar nem à mulher, nem à garota, elas viriam maldade e seu pai desejaria usar a maldade contra ele. Tentou acenar para a avó, mas ela o ignorou e olhou as estrelas. Nem a criança, ser de natureza curiosa, o viu.
Teve a impressão de que as crianças não são educadas para reparar nas pessoas, ele mesmo não tinha sido – ou pior, educado para não reparar.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Gostei deste texto, Harry.
deveras

B.

6:54 AM  

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